Este é o blog oficial do jornalista, assessor de imprensa, palestrante e escritor Rodrigo Capella

sexta-feira

Brincando com Desenho e Poesia

Dia 04 de outubro, quinta-feira, vou participar de um sarau organizado pelo Grupo Bastidores, em São Paulo.

E no dia 06, sábado, vou fazer uma apresentação na “Feira do Livro de São José”, em Santa Catarina, das 14h às 16h. O nome da apresentação é “Brincando com Desenho e Poesia: Para Adultos e Crianças”.

segunda-feira

Literatura: o que há de novo?

Por Rodrigo Capella*


Atualmente, o cenário literário convive com duas tendências. A primeira configura-se em apresentações poéticas antes do início de um show musical ou de uma peça de teatro. Funciona assim: o poeta sobe no palco, lê alguns versos e ainda tem a oportunidade de dialogar com o público.

Recentemente, tive novamente uma experiência desse tipo. Dessa vez no Museu de Arte de São Paulo (Masp), antes que se iniciasse a apresentação da peça “O Amante”, de Harold Pinter. Tive ótimos momentos: a platéia repeteiu alguns versos, comentou a minha apresentação e ainda deu sugestões para as próximas.

Tendo esse tipo de experiência, o poeta aprende a se expressar melhor, aumenta a sua base argumentativa e ainda conquista novos leitores. Afinal, o que seria do poeta se ele não tivesse leitor? Nada. Por isso, eu recomendo: saiam já do armário e começem a declamar as suas poesias.

Uma outra tendência que eu observo no cenário literário é a realização, cada vez maior, de debates interativos, nos quais o público tem uma participação maior e pode interromper a qualquer momento para perguntar ou até mesmo tecer comentários. Em várias vezes, a platéia “esquenta” o debate, propondo temas polêmicos ou redirecionando os assuntos abordados.

Após participar de um debate interativo, é comum o poeta se auto-questionar e se avaliar: “afinal, a poesia que eu faço tem qualidade?”, “eles entendem o que eu escrevo?”. Isso ocorre porque as pessoas da pláteia têm, obviamente, opiniões diferentes, que chegam a confundir o próprio poeta. Mas, essa diversidade é positiva.

Uma das funções do poeta é escrever para o público. Então, o que é preciso fazer para agradar a todos? Escrever versos românticos? Eróticos? Sádicos? Não, não existe uma fórmula exata, nem regras. Mas, muitas dúvidas podem ser sanadas em apresentações poéticas e debates interativos. Então, prepare-se para participar dessas novas tendências. Vou dar algumas dicas.

Na véspera de sua participação, faça uma boa alimentação, com frutas e legumes. Beba bastante água e relaxe, durma durante longos minutos. Quando subir ao palco, faça isso confiante, sem demonstrar medo, por mais que você tenha. Passar credibilidade para o público nessas horas é muito importante e pode determinar o seu fracasso ou sucesso.

Mostre simpatia e alegria. Responda as perguntas com entusiasmo e lembre-se: o leitor de poesia questiona, argumenta e quer uma resposta bem completa. Seja objetivo, mas ofereça elementos curiosos.

Agora que você já conhece essas dicas. Vá em frente e não perca tempo. Converse com amigos, organize debates, faça apresentações nas escolas e frequente todo e qualquer evento literário. Não perca as oportunidades, elas passam mais rápido do que um relógio e não usam dispertador. Saiba o momento certo de agir e suba no palco com alegria e com harmonia. Descubra você as próximas tendências da literatura brasileira. Só não esqueça de me contar!

(*) Rodrigo Capella é escritor e poeta. Autor de “Poesia não vende” e “Transroca, o navio proibido”, que vai ser adaptado para o cinema pelo diretor Ricardo Zimmer. Informações: www.rodrigocapella.com.br

quinta-feira

Frases poéticas e belas

“Não faço esculturas, na verdade, elas sempre estiveram lá. Eu apenas retiro os excessos”. Leonardo da Vinci

“Livros não mudam o mundo, quem muda o mundo são as pessoas”.
Mário Quintana

“Um país se faz com homens e livros”
Monteiro Lobato

segunda-feira

O verdadeiro amor – Segunda Parte

Por Rodrigo Capella*

Coloquei o telefone no gancho e disquei os oito números de Alex.

- Amigo, entreguei um bilhete pra um homem, ele me ligou, vamos sair daqui a pouco.
- Ele é bonito? Como ele é?
- Moreno, olhos azuis, mãos fortes e tem bom hálito.
- Ótimo, o bom hálito é muito importante. Ele tem mão firmes, mãos de super-homem? E as unhas, são bem cuidadas?
- As mãos parecem um tanque de guerra, são muito fortes. Já as unhas, eu não reparei.
- É que eu adoro mãos.
- Sim, que bom, mas o que eu faço?
- Beija ele, uai. O que você quer mais?
- Eu não sei, não sei se ele é o homem perfeito pra mim. Eu queria fazer um teste.
- Teste. Ótima idéia. Eu fiz isso uma vez. Foi esplendoroso!
- E deu certo?
- Sim, fiz com um entregador. Cada vez que ele entregava a pizza, eu fazia uma pergunta diferente. E bingo!
- Quantas perguntas são?
- Apenas duas, minha querida, duas perguntinhas e você vai chegar a uma decisão.
- E qual é a primeira?
- Vamos lá. É o seguinte: você vai simular um desmaio e vai pedir a ajuda dele. Se ele fizer respiração boca a boca é porque você está diante de um safado, agora se ele chamar a ambulância é porque você escolheu o homem certo. Faz esse teste hoje a noite e depois me conta. Agora vou dormir. Beijos e boa sorte, minha linda.
- Obrigada, Alex, boa noite.

Fomos jantar, eu e o homem das batatas. O restaurante era muito simples, mas a comida estava bem temperada. Conversamos sobre futebol, vôlei e a destruição das torres gêmeas. A conversa fluía agradavelmente e já estava na hora de seguir os conselhos de meu amigo. Minutos depois, eu contaria tudo a ele. Disquei os oito números de Alex e:

- Amigo, você está acordado?
- Sim, quer dizer, mais ou menos. Meus olhos estavam fechados, na verdade piscando. Eu estava contando as estrelinhas coladas no teto de meu quarto. Uma mais linda que a outra.
- Acabei de voltar do jantar e queria te contar como foram as coisas.
- Conte, estou curioso. Vamos! Ele te beijou?
- Tentei desmaiar, mas não consegui, coloquei tudo a perder, que droga. Que droga, o que eu faço?
- Calma linda, calma. Vocês se beijaram?
- Ele me deu um selinho em frente ao meu prédio, nossa, que selinho, ele beija muito bem. Parece um pássaro bebendo água.
- Ótimo, isso é muito bom, eu adoro pássaros. E rolou alguma coisa mais?- Mais nada, o que eu faço agora?
- Vai dormir, descansa e marca um outro encontro com esse homem. Aproveite a vida.
- Mas, e o teste? Como fica?
- Você quer continuar?
- Claro, lógico que sim. Qual é a última pergunta?
- Dê um beijo na boca dele, agarre o homem por trás e pergunte: ”você quer casar comigo?”. Preste atenção na reação dele e, depois, me conte tudo, ok? Tim tim por tim tim.
- Claro, nós combinamos de ir ao parque amanhã pela tarde. Vou fazer isso e depois te conto os detalhes.

Fui dormir e acordei com a campainha tocando. Era o homem das batatas segurando um vaso de flores vermelhas e brancas. Agradeci e coloquei no centro da mesa de jantar. Tomei um banho rápido e fomos caminhando até o parque, onde tomamos um delicioso sorvete e alimentamos uns pássaros, espalhados pela grama. Segui as orientações de meu amigo Alex e tentei fazer o que ele pediu, mas novamente coloquei tudo a perder. Disquei os oito números de Alex e:

- Amigo, não consegui de novo. Foi um horror. Eu não sei o que fazer, estou perdida, triste, sem rumo.
- Vocês vão sair outra vez?
- Sim, vamos ao cinema hoje à noite. Por que? Você tem um outro teste?
- Não, não tenho.
- E o que eu faço?
- Curta a vida, beije o seu homem, seja feliz.
- Alex, mas e o teste?
- Minha linda, preste atenção: esse teste nunca existiu.
- Como assim?- Eu inventei tudo pra testar você, meu amor. Na última vez que nós nos vimos, há cerca de um mês lá na floricultura, meu coração disparou, senti algo estranho. Pela primeira vez, depois de quinze anos e dois meses, eu estava gostando de uma mulher.

(*) Rodrigo Capella é escritor e poeta. Autor de vários livros, entre eles “Enigmas e Passaportes” e “Poesia não vende”. Informações: www.rodrigocapella.com.br

terça-feira

O verdadeiro amor - Primeira Parte


Por Rodrigo Capella*

Estava com quase vinte e cinco anos e ainda sonhava em encontrar o homem perfeito. Não, eu não queria um príncipe encantado montado num cavalo branco. Diferente das mulheres da minha idade, eu procurava apenas um homem sincero e com todos os dentes bem escovados.

Iniciei a busca pela Internet, estabelecendo conversas virtuais com possíveis candidatos, dos mais variados tipos e tamanhos. No total, foram cinqüenta encontros cibernéticos ou, se você preferir, duzentas e dez horas dedicadas à procura da minha cara metade. Resultado: três idas ao cinema, assistindo péssimos filmes.

Insatisfeita, liguei para Alex, meu colega de faculdade. Talvez ele pudesse me ajudar:

- Fala linda, há quanto tempo....
- Alex, Alex, sua voz continua a mesma.
- Amor, eu amo a minha voz.
Demos muitas risadas, durante longos minutos.
- Mas, me diga, o que você precisa?
- Passei vinte e cinco anos procurando o homem perfeito para mim. Participei de conversas via Internet e nada, nada deu certo. O que eu posso fazer, meu amigo?
- Ufa! Amiga achei que você estava doente. Relaxa, de homem eu entendo. Já tive vários namorados. Linda, você quer um conselho? Aqui vai: cotidiano, cotidiano é a palavra-chave.
- Como assim?
- Repare nos homens que estão perto de você.
- Alex, obrigada, você abriu o caminho.
- De nada. Eu queria abrir outra coisa.. Hum... Mas, o João está viajando...

Desliguei o telefone. Estava na hora de encontrar o meu homem. Cotidiano. Repeti essa palavra durante longos minutos e construi mentalmente a minha rotina: acordo ás sete, tomo café, vou para a faculdade e volto para casa. Assisto desenho animado até ás oito da noite, subo para quarto e faço anotações no meu diário durante duas horas. Depois, vou dormir e acordo ás sete.
Cotidiano, cotidiano. É claro, o meu homem perfeito só podia estar na faculdade. Ah! O cara que serve batatas durante o almoço. Ele é muito lindo e vive me olhando meio estranho, diferente. Bingo!

No dia seguinte, não tive dúvidas: entrei na fila das batatas, e, respirei fundo, para entregar um bilhete à tampa da minha panela: “eu sei que você não me conhece, mas estou à procura do meu príncipe encantado e sei que ele é você. Me liga. Meu número é....”.
- Alô.

Timidamente, eu não respondi. Achei que era ele. A minha mão suava, o cabelo se desmanchava, o esmalte saia da unha, eu queria me atirar da janela. Pena que ela estava fechada.

- Alô, quem é?
- O cara das batatas.
Rimos bastante, minutos após minutos. Minha mandíbula doeu, fiquei nervosa, queria me matar.
- Que bom que você ligou.
- Obrigado.
O silêncio sempre surge do nada, para dizer nada, para causar surpresa.
- Oi, você está ai?
- Sim, estou no telefone.
- Estava pensando em sair hoje á noite, que tal?
- Hoje, hoje a noite?
- É, você pode?

Fiz alguns segundos de suspense. Eu queria muito, mas nessa hora a mulher precisa se valorizar.
- Alô, posso, claro, posso sim. Me pegue às oito, tá, ás oito!
- Tudo bem, ás oito.
- Beijos, até mais.
- Perai, e o seu endereço?
- Anota. É avenida....

O conto continua. Aguarde a segunda parte.

(*) Rodrigo Capella é escritor e poeta. Autor de vários livros, entre eles “Enigmas e Passaportes”, “Poesia não vende” e “Poesia não vende”. Informações: www.rodrigocapella.com.br

quinta-feira

Se piscar, vai.......

Eu escrevo enquanto olho

Por Rodrigo Capella*

Em 1958, há quase 50 anos, o jornalista Truman Capote, um dos criadores do new jornalism (1924-1984), publicava Breakfast at Tiffany´s, que chegou aos cinemas apenas três anos depois do lançamento. No Brasil, o longa, dirigido por Blake Edwards, recebeu o nome de Bonequinha de Luxo. A tradução do título causou inicialmente certa estranheza entre os críticos e freqüentadores de cinema, mas foi bastante acertada. Bonequinha de Luxo faz referência á personagem principal do filme, uma garota de programa nova-iorquina que sonha em se casar com um milionário, e, ao mesmo tempo, analisa o submundo da prostituição ao utilizar no título uma palavra muito próxima a “lixo”.

Capote inova, nesse livro, a prosa norte-americana e, por conter uma mescla equilibrada de humor, observação, reflexão, questões sociais e diálogos, ele serviu de base para um filme que se tornou excelente antes mesmo de sair do papel.

O livro Breakfast at Tiffany´s é, na verdade, uma comédia romântica americana de época e os roteiristas captaram a mensagem ao levar para a tela trechos bem selecionados. A festa que ocorre no apartamento da protagonista, por exemplo, foi inspirada nas várias reuniões informais que o autor Capote frequentou ao longo de sua vida. Percebe-se isso no filme e na obra.

Oito anos após lançar o bem-sucedido Breakfast at Tiffany´s, considerado por alguns críticos como o fermento para Capote dar início ao new jornalism, o autor publicou o excepcional “In Cold Blood”, provando de vez por todas que a realidade pode se tornar um ótimo romance. A obra seguia á risca um dos lemas dessa nova modalidade de escrita: “escrevo enquanto olho”, que versava sobre a necessidade dos jornalistas escreverem histórias baseadas fielmente na realidade, sem devaneios.

Em várias entrevistas, ao se referir a esse livro, Capote disse que quis produzir uma novela jornalística, algo em grande escala, que tivesse credibilidade, liberdade e precisão poética. Ao dizer isso, o autor, na verdade, comentou a essência do new jornalism: uma novela, com personagens reais, que oferece credibilidade e sustância ao texto e tem emoção, diferente dos textos jornalísticos.

O new jornalism, revolucionário para a época, apoiou-se na literatura realista do século XIX, na qual encontrou elementos para a narrativa, facilitando, então, de sobremaneira a adpatação de In Cold Blood para o cinema e deixando-o tão dinâmico e sensitivo quanto o filme.

Quando chegou ao Brasil, o longa In Cold Blood recebeu uma tradução ao pé da letra e pouco criativa: A sangue frio. O longa trouxe a história de dois ex-condenados, Perry Edward Smith e Richard "Dick" Eugene Hickock, que invadiram a casa de uma família para assaltar um cofre, mas não o encontraram. Roubaram, então, pífios US$ 43 e exterminaram toda a família. Trata-se da dura realidade encontrada também em Bonequinha de Luxo: pessoas preferem a vida fácil a trabalhar.

(*) Rodrigo Capella é escritor e poeta. Autor de “Poesia não vende” e “Transroca, o navio proibido”, que vai ser adaptado para o cinema pelo diretor Ricardo Zimmer. Informações: www.rodrigocapella.com.br