Cupim de Natal
Por Rodrigo Capella*
A árvore piscava com tal fervura, bolas brancas e vermelhas davam o realce, enfeites de laços e cavalos carregavam ternura, no olhar da criança.
Piscava num ritmo prolixo, fixamente olhava o enfeite mais alto, era um papai noel no topo da árvore, despertando nuança no olhar meigo.
A criança, enfeitiçada estava, a admirar o falso real, a crer que papai noel iria, descer da árvore e dá-lhe, um beijo no rosto.
Observava a árvore diariamente, como se buscasse um algo mais, percorria ao redor dos galhos, sentia o perfume vago.
Fixava os olhos atrás da árvore, abria e fechava a porta do armário, passava a mão num furo, feito por cupim.
Observava a árvore, canto por canto, estava quase aos prantos, queria ver se o furo, ia contaminar os enfeites, derrubar os galhos, estragar papai noel e paralisar os cavalos.
(*) Rodrigo Capella é poeta, escritor e jornalista. Autor de diversos livros, entre eles “Enigmas e Passaportes”, “Como mimar seu cão” e “Transroca, o navio proibido”. E-mail: contato@rodrigocapella.com.br