Por Rodrigo Capella*
Sempre tive vontade de ter vivido e sentido toda a mágia de 1968. Mulheres de minissaia, sexo livre e psicodelismo. Não preciso de mais nada! Esse, aliás, pode ser descrito como o cenário perfeito para qualquer obra literária, de qualquer característica.
Já imaginei, inúmeras vezes, um detetive, criado por mim, descobrindo o assassino de Martin Luther King ou ainda a líder do movimento feminista sendo assassinada e o meu detetive entrando em ação.Adoro romance policial e já escrevi dois.
Se me perguntassem, qual livro eu gostaria de escrever, eu rapidamente diria: qualquer obra que tenha como cenário o ano de 1968. Livro para mim tem que ter morte, detetive, pistas, muita ação e, principalmente, um bom cenário.
Já imaginei também um homossexual sendo morto em plena passeata ou o líder dos estudantes de Paris baleado em pleno discurso, assistido por milhares de pessoas. Sinceramente, já imaginei de tudo! Meus pensamentos sempre são amplos; até porque pesquisa nunca me faltou e eu semprei gostei de histórica rica. Acho que é por isso que 1968 me fascina tanto.
A Primavera de Praga, a radicalização da luta estudantil e a tropicália. Ah! Quanta coisa! Quanta coragem. Além de história rica, quem viveu em 1968 teve sempre muita atitude e vontade de mudar. A essência de um bom livro está aí. Uma obra precisa sempe ter um carácter transformador e social.
A narrativa precisa ser densa, envolvente e cheia de fatos. Precisa contribuir para o amadurecimento do leitor.Sonho, diariamente, com os protestos contra a Guerra do Vietnã e com o cinema marginal brasileiro. Se tivesse vivido nessa época, certamente teria mais elementos e meus livros seriam mais ricos e fortes.
Resta-me, portanto, contiuar o ritual diário e debruçar-me em obras literárias e ler depoimentos de terceiros. Conversar com quem era adolescente em 1968 também vale a pena, embora os registros sejam mais confiáveis do que a fala.É, lembrar de 1968, sem ter vivido nessa época, foi, aparentemente, muito bom.
Mas, melhor ainda seria estar lá. Sei que máquina do tempo não existe, mas minha determinação de escrever algo ambientado em 1968 é cada vez mais forte. Como, na minha opinião, o escritor só pode escrever sobre aquilo que viveu, resta-me congelar no tempo e torcer para que 2008 tenha a mesma magia. Ah! Se eu tivesse vivido...
(*) Rodrigo Capella é escritor e poeta. Autor de vários livros, entre eles "Transroca, o navio proibido", que está sendo adaptado para o cinema pelo diretor Ricardo Zimmer. Informações:
http://www.rodrigocapella.com.br/