Este é o blog oficial do jornalista, assessor de imprensa, palestrante e escritor Rodrigo Capella

sábado

Escritores sem dúvidas


Tirando mais dúvidas dos leitores




Rodrigo Capella*
Especial para o Diário de Cuiabá

É... As dúvidas dos leitores continuam a todo vapor e eu continuo do outro lado do Oceano. Como eu não gosto de decepcionar ninguém, vou responder mais algumas perguntas. Essas são de assuntos diversos: agente literário, editoras e parcerias. Nestes dez anos de carreira literária, vivenciei experiências incríveis, mas nada parecido com o que vou narrar na terceira carta deste texto.

A primeira mensagem me foi enviada por Tiana Souza: “Rodrigo, gostaria de trocar idéias sobre o mundo literário. Lancei um livro em 2003, chamado "O galo que pingava ouro". Escrevo sempre e tenho vários textos infanto-juvenil. Acabei de escrever um romance infanto-juvenil, e um romance para adulto. Estou pensando em contratar um agente literário para vender minhas obras. Gostaria de saber sua opinião sobre o assunto. E se quiser me dar algum conselho, fique a vontade. Aguardo resposta”.

Tiana, vamos por partes. Fiquei contente em saber que você tem uma intensa produção literária. Uma máxima é verdadeira: quanto mais escrevemos, melhor escrevemos. Isso ocorre com todo e qualquer escritor. Você está no caminho certo. E o melhor: está diversificando o público e conhecendo exatamente o que o seu público espera de vocês.



Agente literário? Boa pergunta. Vale uma explicação para os leitores: o agente literário é o profissional que faz a ponte entre as editoras e os autores, marcando reuniões nas editoras para tentar viabilizar a publicação de uma determinada obra. O serviço desse profissional custa, no mínimo, R$ 200 por mês, segundo pude me informar. Vale a pena contratar? Sinceramente não sei? Mas, vou lhe passar os pontos positivos e negativos.

Positivos: maior chance de ter a sua obra publicada, já que os agentes têm normalmente bons contatos; maior visibilidade no segmento editorial, já que esses profissionais vão até as editoras e expõe toda a proposta dos livros; e uma melhora considerável do texto, já que muitos agentes fazem uma revisão ortográfica do texto.

Pontos negativos: os agentes não se comprometem a publicar a obra, ou seja, você paga e não tem garantia de que o seu livro será publicado; além de pagar uma taxa mensal, você, provavelmente, terá que dar uma porcentagem de capa do livro para o agente, a depender do contrato. Ou seja, o autor já ganha pouco e terá que dividir o pouco que ganha com um agente. Vale a pena? E mais: os agentes cuidam de vários livros ao mesmo tempo, de diferentes autores, e não se dedicará integralmente ao seu livro.

Portanto, trata-se de uma decisão de dois pesos e duas medidas: a decisão é sua! Reflita e tome a melhor decisão: um erro cometido agora, pode afetar toda a sua carreira literária. Não tome uma decisão de imediato, converse com mais alguns escritores e vá em frente.



O segundo e-mail foi-me enviado por Douglas Paiva. Ele disse, sem delongas: “Gostaria de publicar meu livro, como faço qual o endereço da editora de vocês? Grato”. Primeiro, vale a pena esclarecer que eu sou simplesmente um escritor, não trabalho e nunca trabalhei em uma editora, contrariando até uma das características das novas gerações literárias. Os jovens autores têm cada vez mais se associado a editoras, fazendo trabalho de traduções, pesquisa, correções de texto e, mais tarde, publicam o livro pela editora que prestaram serviços. Isso tem ocorrido cada vez mais. Mas, eu sou uma exceção. Não faço parte de nenhuma editora.

Bom, chegamos finalmente à terceira carta, a mais misteriosa de todas, escrita por um tal J.J: “Oi, Prezado Rodrigo Capella, meu nome é J.J, sou autor de um livro e eu estava acertando as últimas negociações com uma editora famosa, mas acabou não ocorrendo. Envio-lhe este e-mail para podermos conversar sobre uma parceria de lançarmos meu livro com o meu e o seu nome, acredito que se o senhor quiser saber mais sobre os detalhes, isso poderá me ajudar muito e também ao senhor! Preciso muito de apoio! Obrigado!”.

J.J, que mensagem estranha? Desculpe decepcioná-lo, mas não faço esse tipo de parceria. Cada autor deve escrever o seu próprio livro. Escrever é sinônimo de liberdade, de atitude, de prosperidade. Cada autor deve buscar seus próprios elementos para dar dinamismo á história e propor algo ousado. A parceria, por melhor que ela seja, bloqueia a capacidade criativa de um dos escritores e impede a continuação do projeto. Cada autor, na minha opinião, deve escrever o próprio livro. Só assim estará conquistando leitores, conhecendo novos mundos e se deliciando com a realidade.



(*) Rodrigo Capella é escritor e poeta. Autor de vários livros, entre eles “Rir ou chorar” e “Transroca, o navio proibido”, que está sendo adaptado para o cinema. Informações: www.rodrigocapella.com.br