Eu escrevo enquanto olho
Por Rodrigo Capella*
Em 1958, há quase 50 anos, o jornalista Truman Capote, um dos criadores do new jornalism (1924-1984), publicava Breakfast at Tiffany´s, que chegou aos cinemas apenas três anos depois do lançamento. No Brasil, o longa, dirigido por Blake Edwards, recebeu o nome de Bonequinha de Luxo. A tradução do título causou inicialmente certa estranheza entre os críticos e freqüentadores de cinema, mas foi bastante acertada. Bonequinha de Luxo faz referência á personagem principal do filme, uma garota de programa nova-iorquina que sonha em se casar com um milionário, e, ao mesmo tempo, analisa o submundo da prostituição ao utilizar no título uma palavra muito próxima a “lixo”.
Capote inova, nesse livro, a prosa norte-americana e, por conter uma mescla equilibrada de humor, observação, reflexão, questões sociais e diálogos, ele serviu de base para um filme que se tornou excelente antes mesmo de sair do papel.
O livro Breakfast at Tiffany´s é, na verdade, uma comédia romântica americana de época e os roteiristas captaram a mensagem ao levar para a tela trechos bem selecionados. A festa que ocorre no apartamento da protagonista, por exemplo, foi inspirada nas várias reuniões informais que o autor Capote frequentou ao longo de sua vida. Percebe-se isso no filme e na obra.
Oito anos após lançar o bem-sucedido Breakfast at Tiffany´s, considerado por alguns críticos como o fermento para Capote dar início ao new jornalism, o autor publicou o excepcional “In Cold Blood”, provando de vez por todas que a realidade pode se tornar um ótimo romance. A obra seguia á risca um dos lemas dessa nova modalidade de escrita: “escrevo enquanto olho”, que versava sobre a necessidade dos jornalistas escreverem histórias baseadas fielmente na realidade, sem devaneios.
Em várias entrevistas, ao se referir a esse livro, Capote disse que quis produzir uma novela jornalística, algo em grande escala, que tivesse credibilidade, liberdade e precisão poética. Ao dizer isso, o autor, na verdade, comentou a essência do new jornalism: uma novela, com personagens reais, que oferece credibilidade e sustância ao texto e tem emoção, diferente dos textos jornalísticos.
O new jornalism, revolucionário para a época, apoiou-se na literatura realista do século XIX, na qual encontrou elementos para a narrativa, facilitando, então, de sobremaneira a adpatação de In Cold Blood para o cinema e deixando-o tão dinâmico e sensitivo quanto o filme.
Quando chegou ao Brasil, o longa In Cold Blood recebeu uma tradução ao pé da letra e pouco criativa: A sangue frio. O longa trouxe a história de dois ex-condenados, Perry Edward Smith e Richard "Dick" Eugene Hickock, que invadiram a casa de uma família para assaltar um cofre, mas não o encontraram. Roubaram, então, pífios US$ 43 e exterminaram toda a família. Trata-se da dura realidade encontrada também em Bonequinha de Luxo: pessoas preferem a vida fácil a trabalhar.
(*) Rodrigo Capella é escritor e poeta. Autor de “Poesia não vende” e “Transroca, o navio proibido”, que vai ser adaptado para o cinema pelo diretor Ricardo Zimmer. Informações: www.rodrigocapella.com.br
Por Rodrigo Capella*
Em 1958, há quase 50 anos, o jornalista Truman Capote, um dos criadores do new jornalism (1924-1984), publicava Breakfast at Tiffany´s, que chegou aos cinemas apenas três anos depois do lançamento. No Brasil, o longa, dirigido por Blake Edwards, recebeu o nome de Bonequinha de Luxo. A tradução do título causou inicialmente certa estranheza entre os críticos e freqüentadores de cinema, mas foi bastante acertada. Bonequinha de Luxo faz referência á personagem principal do filme, uma garota de programa nova-iorquina que sonha em se casar com um milionário, e, ao mesmo tempo, analisa o submundo da prostituição ao utilizar no título uma palavra muito próxima a “lixo”.
Capote inova, nesse livro, a prosa norte-americana e, por conter uma mescla equilibrada de humor, observação, reflexão, questões sociais e diálogos, ele serviu de base para um filme que se tornou excelente antes mesmo de sair do papel.
O livro Breakfast at Tiffany´s é, na verdade, uma comédia romântica americana de época e os roteiristas captaram a mensagem ao levar para a tela trechos bem selecionados. A festa que ocorre no apartamento da protagonista, por exemplo, foi inspirada nas várias reuniões informais que o autor Capote frequentou ao longo de sua vida. Percebe-se isso no filme e na obra.
Oito anos após lançar o bem-sucedido Breakfast at Tiffany´s, considerado por alguns críticos como o fermento para Capote dar início ao new jornalism, o autor publicou o excepcional “In Cold Blood”, provando de vez por todas que a realidade pode se tornar um ótimo romance. A obra seguia á risca um dos lemas dessa nova modalidade de escrita: “escrevo enquanto olho”, que versava sobre a necessidade dos jornalistas escreverem histórias baseadas fielmente na realidade, sem devaneios.
Em várias entrevistas, ao se referir a esse livro, Capote disse que quis produzir uma novela jornalística, algo em grande escala, que tivesse credibilidade, liberdade e precisão poética. Ao dizer isso, o autor, na verdade, comentou a essência do new jornalism: uma novela, com personagens reais, que oferece credibilidade e sustância ao texto e tem emoção, diferente dos textos jornalísticos.
O new jornalism, revolucionário para a época, apoiou-se na literatura realista do século XIX, na qual encontrou elementos para a narrativa, facilitando, então, de sobremaneira a adpatação de In Cold Blood para o cinema e deixando-o tão dinâmico e sensitivo quanto o filme.
Quando chegou ao Brasil, o longa In Cold Blood recebeu uma tradução ao pé da letra e pouco criativa: A sangue frio. O longa trouxe a história de dois ex-condenados, Perry Edward Smith e Richard "Dick" Eugene Hickock, que invadiram a casa de uma família para assaltar um cofre, mas não o encontraram. Roubaram, então, pífios US$ 43 e exterminaram toda a família. Trata-se da dura realidade encontrada também em Bonequinha de Luxo: pessoas preferem a vida fácil a trabalhar.
(*) Rodrigo Capella é escritor e poeta. Autor de “Poesia não vende” e “Transroca, o navio proibido”, que vai ser adaptado para o cinema pelo diretor Ricardo Zimmer. Informações: www.rodrigocapella.com.br